“Existindo em forma de Deus” (Fp 2: 6,7)

Há profecias de que um ser celestial viria a terra em forma humana?

Milhões entre os cristãos têm em sua crença de que o próprio Deus se fez homem e veio a terra. Vocês conseguem imaginar um acontecimento mais fantástico do que esse, impossível não é? Pois, se tratando então de um evento desta envergadura, que tal acreditar que os profetas antigos teriam dito que isso aconteceria? Será que os profetas antigos falaram que isso aconteceria? Muitos dizem que sim, mas onde?

Em Filipenses 2:4-8, Paulo registra: “Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz”.

A nossa envelhecida ortodoxia protestante entende que esse “esvaziou-se” implica dizer que Cristo trocou uma natureza pela outra, que ele saiu do céu [tendo a forma de Deus] e chegou a terra como homem [tomou a forma de homem]. Ou seja, os trinitarianos geralmente fazem a leitura desse versículo como se Paulo estivesse falando de um Jesus que viveu antes do seu nascimento em Belém e de sua decisão de se tornar um ser humano. Para eles, Paulo está se referindo à encarnação do Filho preexistente.

Neste contexto, a aparente possibilidade de Cristo estar esvaziando-se da natureza divina, e uma grande massa de linguística e evidência favorável a essa interpretação, parece tornar inviável qualquer alternativa contextual, o que deixou enraizado na Ortodoxia Cristã total credibilidade para essa visão tradicional.

Inevitável não haver questionamentos diante de um contexto tão controvertido. Por que o verso cinco diz que toda essa metamorfose de divindade para humanidade foi um sentimento que houve em Cristo Jesus, o nome que lhe foi dado depois de nascido? Ora, a passagem não diz nada sobre o céu ou uma vida passada para Jesus, mas sim se refere a “Cristo” – “o Filho de Deus”, um nome e título que ele adquiriu apenas a partir de seu nascimento (Sl 2:7; Lucas 1: 32,35 e Mat 1:18).

A noção de uma divindade que se despe de suas atribuições e prerrogativas é inerentemente problemática – os trinitarianos devem responder se isso significa que Jesus deixou de ser “Deus” quando se tornou humano. Ora, o conceito tradicional da preexistência significa que a concepção de Jesus foi o rompimento de uma existência como Deus e o começo de uma carreira terrestre como homem. Além disso, se Deus é eterno e não muda, como Ele pode livrar-se de qualquer parte da sua natureza? Será que essa idéia não contradiz passagens como Malaquias 3:6, que diz: “Eu sou o Senhor, não mudo”?

Como e quando ele readquiriu seus atributos divinos? O que é que tudo isto implica sobre a morte de Jesus, que Deus/Jesus realmente morreu ou se apenas uma parte dele morreu na cruz?

Jesus, numa existência anterior imortal, poderia “aniquilar” em si mesmo essa imortalidade para se tornar homem? Ou não foi a morte de Jesus uma morte real, que somente o homem Cristo morreu e sua parte deificada não morreu? Será que isso tudo é uma charada divina? Será que apenas o corpo humano de Jesus morreu? Se assim for, isso não significa que sua natureza humana é impessoal? Se apenas a parte humana de Jesus morreu, o que foi o ponto de “Deus, o Filho”, como os trinitarianos o chamam, “esvaziando-se de seus atributos divinos?”

Estamos preparados para aceitar a noção de que Deus pode se tornar um homem? E como pode o agir exclusivo de Cristo em “despojar-se” de seus privilégios divinos para se tornar humano, servir como um exemplo prático da humildade cristã? Um cristão pode “alienar-se” de seus atributos humanos e assumir uma natureza totalmente diferente?

Finalmente, se Jesus é humano e divino, isso não faz dele uma espécie de híbrido? Como ele pode, nesse caso, ainda ser classificado como verdadeiro ser humano? E se ele não é verdadeiramente humano, se ele possui poderes ou uma natureza que é mais do que humano, como ele pode servir como um exemplo de como os seres humanos devem viver?

Vemos que foi uma decisão de Jesus através do seu sentimento, no que diz respeito a se esvaziar. E de que maneira devemos usar em nós o mesmo sentimento? Deixe-me colocar da seguinte forma: Quando ele aceitou vir do céu – como muitos ensinam – parece sugerir que ele administrou todo o processo de transição até entrar no útero de Maria como uma célula reprodutora. Isso parece estranho como interpretação para a preexistência de Cristo, pois fala dele perdendo uma natureza que adquiriu num lugar, sendo transportado com uma natureza totalmente diferente para outro lugar. Isso implica dizer que o Senhor Jesus drenou a sua própria essência divina. E nós, como faríamos a mudança usando sentimentos?

E, se foi assim que aconteceu, por que muitos insistem dizer que ele era divino quando aqui andou se ao mesmo tempo dizem que ele despiu-se da sua glória? Assumir a natureza humana dessa forma parece absurdo, pois se acaba perdendo o significado real de escravo e servo inseridos no contexto de Filipenses. Ou seja, bastaria dizer que ele era divino e se transformou num ser humano. No entanto, o texto insiste dizendo que houve significativas mudanças que vieram dar real significado ao contexto, pois fala do sentimento que havia em Cristo Jesus, e não que ele passou de uma condição extraterrestre para uma de habitante deste planeta.

E há um ponto crucial ignorado por milhões dentro da nossa ortodoxia: Será que não passa pela mente trinitariana que foi o Espírito Santo – intitulado por eles mesmos como a terceira pessoa da Trindade – quem desceu até Maria e não o próprio Jesus? A decisão de enviar foi do Pai, não do Filho. Jesus não deixou sua glória para vir a terra em “sendo em forma de Deus … foi achado na forma de homem” porque ele não estava na eternidade passada. Ele nunca foi preexistente!

Toda essa confusão poderia ter sido evitada se não fosse pela má interpretação da palavra grega morphe. Esta palavra é comumente traduzida para o português como “forma”. A maioria tende interpretar morphe bem ao estilo convencional: natureza divina. Isso significa, para muitos, que a “forma de Deus” aponta para a “natureza” interior de Jesus, que o seu corpo era divino, transcendente esotérico atemporal. Porém, isso não está de acordo com Gênesis 3:15, quando garante categoricamente que ele foi semente de Mulher, como também não está de acordo com outras passagens que falam de Cristo como descendente de Davi e Abraão. Isso não significa simplesmente dizer que ele se esvaziou de sua glória, significa dizer que ele nasceu como todos os homens nascem. Na verdade, Paulo aqui apresenta o Senhor como o Filho do criador do universo, sendo sua [forma] imagem, exemplo deixado em vários discursos de Cristo quando afirmava que ele o Pai são um, quem o via também via o Pai e versos similares.

É importante para o novo convertido quando ele ouve sobre Jesus de Nazaré como um homem; um homem que o salvou e levou seus pecados, ao contrário dessa heresia nociva sugerindo que Jesus ultrapassou os limites da fraqueza vencendo o pecado porque ele era um ser especial, um homem-Deus, como insinuou um evangélico num dos muitos debates sobre a divindade de Cristo: “Seria totalmente impossível a “semente” de Gênesis 3:15 ter sido um ser somente 100% humano, não teria a menor possibilidade de tal vencer as obras do diabo. Jesus derrotou o diabo em harmonia com Deus e tal harmonia era especial. A relação de Jesus com Deus era especial e para que isso fosse possível se faz necessário algo transcendente em ambos”.

O texto de Filipenses jamais poderia dizer que Jesus era Deus tendo a natureza de Deus – ele foi um terráqueo, no grosso da palavra. Além disso, Paulo diz que o Senhor não julgou como usurpação o ser igual a Deus. Igualdade com Deus aqui não significa igualdade com a outra pessoa da Divindade, mas a igualdade como Filho direto de Deus. E essa igualdade aqui não é a igualdade na posse da essência divina, mas na sua expressão.

Vou apresentar aqui uma tradução diferente dos versículos em questão, que podem tornar o entendimento do contexto bem mais claro,

Embora existindo em igualdade com Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, sendo reconhecido em figura humana, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz“.

Há alguns detalhes aqui que precisam ser observados; “Embora existindo em igualdade com Deus, não considerou que o ser igual a Deus…“. Ora, evidente que isso deve significar que Deus era outro. Portanto, quando diz que ele “esvaziou-se a si mesmo” esta claramente separando ele (si mesmo) de Deus. Na verdade, o versículo poderia ficar dessa forma: “pois ele, sendo a expressão do próprio Deus, não quis se igualar a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana”.

Quando o texto diz que Cristo não quiz se igualar a Deus deve significar que ele não era o próprio Deus. O que ele está dizendo é que Cristo em sua mente, ou atitude não egoísta, não “apoderou-se” ser igual a Deus, mas humilhou-se como servo por amor a nós. Ele não considerou agarrado em igualdade com Deus. O escritor aos Hebreus explica melhor: “embora fosse filho, aprendeu a obediência por aquilo que sofreu“. A ênfase em “embora fosse filho” nos revela um significado interessante; Jesus não é filho de qualquer um, mas do Criador do universo, o Rei. E mesmo assim ele não se concentrou em sua nobreza como filho, mas se humilhou para servir aos outros.

Jesus era da realeza; Deus escolheu para seu filho nascer na linhagem de Davi (Mateus 1: 1); Deus poderia declará-lo como herdeiro do trono de Davi (Lucas 1:32). Ele determinou que Jesus iria governar a casa de Israel para sempre (Lucas 1:33). E, enquanto ele nasceu e viveu como rei dos judeus (Mateus 2: 2), Paulo diz aos filipenses no verso 7a que ele “esvaziou-se …”. Uma série de outras traduções dizem: “Mas se fez de nenhuma reputação”. Esse é o caso. Por exemplo, quando Jesus, como o futuro rei de Israel, entrou na cidade de Jerusalém em “entrada triunfal” ele não veio em posição adequada para uma realeza. Ele veio montado num animal de carga – um jumento (Mateus 21: 7).

A nobreza de Jesus estava em sua relação com Deus como Filho do Rei e criador do universo. Por isso o Apóstolo Paulo em outro lugar diz que Jesus, sendo rico, se fez pobre por amor de nós (2 Cor 8:9). Sim, ele era o filho do Deus Todo-Poderoso, mas não se agarrou nessa realidade humilhando-se para servir a outros. Assim, a humildade do Senhor não estava no fato de que, como um filho preexistente, ele desceu de sua posição no céu, como muitos afirmam, humilhando-se em uma encarnação, sugerindo que Cristo não se fez realmente pobre por nós, mas manteve a riqueza de sua natureza divina nobre quando ele encarnou-se, e, enquanto desfilava disfarçado em um corpo humano, sua humildade foi ter que aturar a natureza humana comum em si mesmo ao mesmo tempo em que vivia em sua natureza divina.

O auto sacrifício de Jesus é contrastado com a história do Gênesis da arrogância de Adão querendo agarrar a divindade no convite de Satanás de que “seriam como Deus”(Gn 3:5) . Como Adão, Cristo foi a forma/imagem de Deus, mas em vez de escolher se agarrar em igualdade ou semelhança com Deus, Cristo esvaziou-se, recebendo livremente a forma de um escravo. Cristo se humilhou, não escolhendo abraçar a atitude de Adão, passando longe do destino que Adão sofreu como título de punição, sendo assim obediente até a morte. Adão cedeu quando eles estavam sendo tentados pelo pensamento de que poderiam “ser como Deus” (Gênesis 3: 5). Ele não foi um exemplo de humildade e obediência que Paulo poderia apontar para os filipenses. Jesus, por outro lado, não considerou “a igualdade com Deus algo a ser apreendido”. Jesus era o exemplo perfeito para os filipenses. Ele conseguiu vencer onde Adão falhou. E mesmo que Adão não seja mencionado no texto, a “forma de Deus” em Jesus pode fazer um paralelo para se referir a Adão como a “imagem de Deus”. Observe que Paulo também chama Jesus de Adão,

Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante”, 1 Co 15:45.

Observem o que aconteceu em Gênesis 3:5; o diabo disse para Adão e Eva: “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus…”.

Volta para Filipenses e veja novamente o que os textos dizem sobre o último Adão, Jesus: “Que, sendo a imagem/forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz“.

Portanto, não há nada no contexto de Filipenses aqui em estudo indicando que Cristo possuía igualdade divina com Deus. E quando ele recusa-se ser igual a Deus, ele simplesmente escolhe o caminho oposto ao de Adão. Assim, esse contexto (“mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens”) não deve ser interpretado como o Filho preexistente escolhendo se encarnar, tese que inevitavelmente gera algumas perguntas desconcertantes para os trinitarianos: Se Jesus era Deus no céu, por que Paulo não diz que ele não desejou ser igual a si mesmo se despindo de sua natureza celestial e tornando-se em forma de Homem? Ora, se o texto diz que ele não queria ser igual a Deus, e ele mesmo era Deus, então a confusão trinitariana está armada. De fato, observe a contradição: “o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar“, Filipenses: 2:6.

Novamente: Se Ele era Deus no céu por que o texto não diz que ele “não considerou ser igual a ele mesmo quando estava no estado preexistente?”

Depois de dizer que Cristo estava na forma de Deus, Filipenses 2: 6 prossegue dizendo que Cristo “não considerou a igualdade com Deus algo a ser apreendido” (NIV). Esta frase é um poderoso argumento contra a Trindade. Se Jesus fosse Deus, então não faria nenhum sentido dizer que ele não “compreendia” a igualdade com Deus porque ninguém se agarra à igualdade consigo mesmo. Faz sentido apenas elogiar alguém por não buscar a igualdade quando ele não é igual. Alguns trinitaristas dizem: “Bem, ele não estava buscando a igualdade com o Pai”. Não é isso que o versículo diz. Diz que Cristo não pretendeu a igualdade com Deus, o que torna o versículo sem sentido se ele fosse Deus.

O que o texto está apresentando é uma antítese, um contraste: Jesus não foi e nem era Deus em tempo nenhum. Porém – aqui na terra, não no céu – devido à sua humildade, seu sentimento, rejeitou qualquer aspiração a ser igual a Deus, considerando isso uma usurpação, mas, ao contrário, ‘humilhou-se até à morte’.

Além disso, se Cristo é igual a Deus, como então Deus poderia enaltecer Jesus a uma posição superior, sendo que não há posição superior a de Deus? Ele só poderia ter recebido uma “posição superior” – considerando que ele tinha uma existência pré-humana – se ele não fosse “igual a Deus”. E mais, o verso nove diz que a ele foi dado um nome acima de todo o nome. Isso nos leva a um questionamento curioso: “qual nome ele tinha antes de descer a terra se o que ele recebeu aqui foi maior?”

E acima de todas essas dificuldades devemos considerar a principal delas. O texto grego diz, “ὃς ἐν μορφῇ θεοῦ ὑπάρχων”, que traduzido literalmente é “O qual em forma de Deus existindo“. A declaração está fora de ordem. Ou seja, é uma tradução literal do grego de Filipenses 2:6 que a maioria das nossas versões verteram por, “O qual sendo Deus”. Isto não é absolutamente uma tradução, mas uma enorme adulteração.

De fato, podemos analisar a declaração à luz da própria Bíblia fazendo comparação com outros textos onde a palavra “forma” ocorre. Em Fil. 2:7, no próximo versículo, observamos a palavra “forma” sendo empregada novamente. Paulo nos diz que Cristo literalmente “tomou a forma de escravo”, em uma equivalência dinâmica, e em matéria de tradução, podemos dizer que “assumiu a forma de escravo”. Como sabemos “escravo” se refere a uma classe de pessoas.

As comparações de “forma de Deus” e “forma de escravo” revelam todo o contexto. Atente para a expressão “assumiu a forma de escravo” no versículo sete. É preciso mistificar alguma coisa aqui? Logo, essa “forma de Deus” não trata da natureza de Jesus e sim de sua função, seu propósito.

A palavra usurpação já deixa claro que se trata de se colocar na posição (lugar, cargo) de outra pessoa, não fala de natureza e sim posição e também diz que ele tomou a forma de escravo, novamente se trata de posição (cargo) e não de natureza. Posição de escravo e não natureza de escravo. Escravo é uma posição (cargo) e não uma natureza. Este texto é claro em se referir ao propósito e não à natureza. Assim como “forma de escravo” é posição de escravo, “forma de Deus” é uma posição, e não natureza. E não importa o que dizem os inúmeros léxicos disponíveis, que na verdade não concordam entre si sobre o significado real de morphe. Diferentes léxicos têm pontos de vista opostos sobre a definição dessa palavra, a tal ponto que não podemos pensar em nenhuma outra palavra definida pelos léxicos de forma tão contraditória. Portanto, os léxicos não servem para referências conclusivas nesse contexto.

Por que Paulo faz uma conexão com a morphe de Deus com a morphe de um servo? Parece sem sentido se Paulo tivesse contrastando um “o que” (uma natureza divina) versus um “quem” (um servo). Além disso, um servo não é um servo devido a possuir uma natureza que o classifica como servo. Um servo é um servo devido à sua posição na vida e as atividades de servo que ele realiza. Isso fala de uma função, não de um ser. Não é a natureza ou essência particular que faz de você um servo. É uma posição na vida.

Paulo está falando de um comportamento visível. Tomar a forma de um servo significa necessariamente se comportar visivelmente como servo, fazendo as atividades humildes de um servo. Um servo não é um servo porque ele tem uma natureza particular. Um rei e um servo têm a mesma natureza humana. A categoria servidora refere-se à função não a inerência, e tomar a forma de um servo é uma coisa funcional. Devemos nos perguntar se morphe é uma referência para funcionar também.

Tentando anular a realidade da interpretação os trinitarianos apontam para o verso oito quando Paulo usa o mesmo termo (morphe) e diz que Jesus foi “achado na forma de homem”, o que, para eles, provaria que na eternidade ele era um espírito. Ora, imediatamente após dizer que Jesus foi “achado na forma de homem”, diz que ele “humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz”. Veja a passagem com o verso sete adicionado: “Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz”.

A semelhança aqui não é uma referência à transferência do céu para a substância física da humanidade, mas sim de “ter se tornado uma imagem da humanidade (pecadora)”, embora ele não tivesse em si mesmo pecado (1Pe 2:22). Observe que a frase, “foi feito (do grego genomenos) à semelhança dos homens” ocorre antes da sequência que diz que ele “se tornou obediente”. O sentido é que ele se mostrou à semelhança dos homens, mas com uma diferença enorme: Ele foi a pedra angular, o ungido, o Salvador dos pecadores, e mesmo sendo um homem, se mostrou obediente à vontade de seu pai. Ele era um homem, vivendo entre os homens, mas com um propósito a cumprir além do que qualquer outro homem foi chamado a alcançar. Por isso o verso oito, “E sendo achado na forma de homem”, foi traduzido por Weymouth como, “E sendo reconhecido como um verdadeiro ser humano”. Foi essa condição humana que deu a Cristo sua empatia com homens e mulheres. A tradução na linguagem de hoje melhora consideravelmente o sentido quando diz que Jesus “abriu mão de tudo o que era seu e tomou a natureza de servo, tornando se assim igual aos seres humanos. E, vivendo a vida comum de um ser humano”.

E mais uma vez: “achado da forma de homem”, não se refere a qualquer mudança de substância espiritual para carne e sangue. Antes, porque Jesus “tomou a forma de um escravo” significou assumir o status de escravo com a atitude mental (versículo cinco) ou disposição de um servo. Apesar de ser o Messias, ele assumiu o status de homem/humanidade caída para se tornar um servo da humanidade e não assumiu seus direitos e privilégios como filho do Rei. Não há pensamento aqui de mudar para a substância de um ser humano; nenhuma das alterações de localização é indicada, mas a simples aceitação de um status inferior por alguém que, por direito, tem um status elevado. Além disso, como mortal, é impossível que Jesus tenha existido anteriormente como um imortal, isto é, como um anjo ou ser celestial (Lucas 20:36). No entanto, Jesus era como os outros homens e não o mesmo que eles, porque eles precisavam se reconciliar com Deus, enquanto ele não. Novamente, a frase sobre Jesus “tendo sido achado na forma de homem” não tem significado metafísico. Semelhante ao esquema de morphe, deve significar:

1) O estado geralmente reconhecido ou forma em que algo aparece. Nesse caso, podemos ver morphe como sinônimo de caráter, aparência ou imagem de Deus.

2) O aspecto funcional de algo, modo de vida das coisas; compare com 1 Coríntios 7:31 “Este mundo em sua forma (morphe) atual está desaparecendo”.

No entanto, o mundo da humanidade não terá uma mudança da substância física da qual é feita, mas sim do seu caráter e modo de operação. No caso de Jesus deve ser interpretado como “estar em condição de homem”, ou “compartilhando com os humanos”. Cristo está sendo avaliado como Adão – como homem representativo, como se fosse um homem caído, apesar de não ter sido, mas se colocando no lugar deles para salvá-los. Então, Jesus “tendo se tornado à semelhança dos homens” significa que ele cresceu para ser um homem, assim como os pecadores fazem. A frase está efetivamente dizendo que ele cresceu e se tornou um homem como os outros homens são (Lucas 2:40). Não se tornando um homem de outra coisa (ninguém pode fazer isso), mas tornando-se completamente humano, o que poderia significar também que ele foi 100% homem sem divindade alguma. Deus o “fez” à semelhança dos homens. Na verdade, ele foi feito como nós “em todos os aspectos” (Hebreus 2:17).

Jesus esvaziou-se de tudo. Jesus já teria (“tendo”) sido humano quando se esvaziou ou se derramou. Assim, o céu não é o local onde ocorreu tal esvaziamento. Pelo contrário, esta frase mostra que Jesus negou-se a si mesmo ao longo de sua vida para, finalmente, ser sacrificado a nosso favor (Isaías 53:12). Neste caso, “ekenosen” (ele se esvaziou), não se refere a um único momento, entendido pelos trinitarianos como o momento da “encarnação”, mas a completude de uma série de atos repetidos; sua vida terrena, vista como um todo, era um processo infalível de auto esvaziamento.

Portanto, em seu curso de vida, Jesus [o Messias – o homem] pôs de lado essa legítima dignidade, prerrogativas e privilégios como filho do Rei, humilhando-se para viver uma vida de servidão que terminou com a sua morte. Os filipenses seriam convidados a copiar o exemplo impossível de se esvaziar de sua essência? Em vez disso, deviam “esvaziar-se” de sua natureza contenciosa, egoísta e imitar o exemplo vitalício de humildade e abnegação de Jesus. Paulo não nos adverte para não sermos como um arcanjo ou ser celestial. Ele nos adverte para sermos servos humildes como humanos. O contexto adicional é mostrado quando ele diz:

Eu (Paulo) estou sendo derramado como uma oferta de libação sobre o sacrifício e serviço público para o qual a fé o conduziu” (Fp 2:17). Certamente a essência de Paulo não foi derramada.

Assim, o tema desses versos não é sobre um arcanjo preexistente ou um ser celestial ou o “Deus Filho”, mas o Messias humano, o histórico Jesus – “Pois há um mediador… um homem, Cristo Jesus” (1 Tim. 2: 5 ) que veio a existir através de seu nascimento (Lucas 1:35, 2:11). É evidente que Paulo estava pensando em Cristo como homem quando redigiu essas linhas em Filipenses capítulo dois onde o contexto é: “mas na humildade da mente… que esta mente esteja em vocês, que também estava em Cristo Jesus” (versículos 3-5). Logo, o assunto não é sobre uma mudança na essência ou natureza de Jesus num tempo de pré-concepção, mas fala de um sentimento do homem Jesus quando aqui viveu.

E, por mais incrível que possa parecer, algumas palavras derivadas de morphe são usadas com relação aos crentes, o que não deve significar que eles foram seres divinos ou deuses: “Meus filhos, com quem estou novamente em trabalho de parto até que Cristo seja formado (morphoo) em vós“, Gl 4:19.

Paulo não está sugerindo que os gálatas desenvolvam a forma física de Cristo, ou a literal essência do Jesus ressuscitado, mas que os princípios de Cristo fossem adotados por eles.

Outra pista é encontrada em 2 Timóteo 3: 5 onde lemos que os “homens tinham uma forma de piedade” (morphōsin eusébeias), mas negavam o poder dela. A essência deles era piedade? Evidente que não, pois Paulo diz que eles a negavam. Paulo está se referindo aqui a atividades não intrínsecas. Mais ainda, devemos entender que essa forma de piedade não era autêntica. Esses homens tinham a aparência externa de piedade, mas não eram de todo piedosos. Em vez disso, eles praticavam o mal.

Agindo na forma de Deus

Havia uma “forma de Deus” em Jesus. Ele era “o unigênito do Pai” (João 1:14). Jesus declarou: “quem vê a mim vê o Pai” (João 14:9) e “Eu estou no Pai e o Pai em mim” (João 14: 7–15). Sua vida declarou Deus a Israel, porém, daquele alto status, ele estava preparado para adotar o status de servo para cumprir o propósito de seu Pai. Ou seja, de acordo com a forma de Deus “todas as coisas foram feitas por intermédio dele” (João 1:3). De acordo com a forma de um servo, “ele nasceu de mulher, nasceu sob a lei” (Gl 4:4). Conforme a forma de Deus, “ele e o Pai são um” (João 10: 30), de acordo com a forma de servo, “ele não veio para fazer a sua própria vontade, mas a vontade daquele que o enviou” (João 6:38). De acordo com a forma de Deus, “como o Pai tem a vida em si mesmo, ele também deu ao Filho ter vida em si mesmo” (João 5:26), de acordo com a forma de servo, “sua alma está triste até a morte, e: “Pai”, diz ele, “se é possível, passe de mim este cálice” (Mateus 26:38-9).

Podemos perguntar, então, como fez Jesus sua função do status/morphe de Deus durante seu ministério terreno? Será que os quatro Evangelhos retratam suas atividades de forma a sugerir que ele estava fazendo o que o próprio Pai teria feito, se Deus estivesse presente, visível e pessoalmente para realizar o ministério que seu filho de fato cumpriria? Será que Cristo estava exercendo as prerrogativas que realmente pertencem ao próprio Deus? Não precisamos ir muito longe para encontrar a resposta a estas perguntas. Muito cedo no ministério de Cristo surgiu a pergunta: “Quem pode perdoar pecados senão Deus?” (Marcos 2:7). Jesus tinha acabado de dizer a um paralítico: “Filho, os teus pecados estão perdoados”.

Os mestres da lei que o ouviram dizer estas palavras o acusaram de blasfêmia. Jesus respondeu: “Qual é mais fácil: dizer ao paralítico: ‘Os teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te, toma o teu leito e anda?” Então, ele acrescentou as palavras cruciais: “Mas, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar pecados…” (2:10). Os escribas estavam corretos na compreensão de que a autoridade máxima para perdoar os pecados dos homens repousa sobre Deus. Mas eles precisavam entender ainda mais que Deus delegou ao seu Filho autoridade para agir no lugar dEle e em seu nome! Neste ato de perdão, então, Cristo estava funcionando no morphe o estado – de Deus, que o havia enviado.

Mais uma prova do status de Jesus como morphe de Deus na terra é visto em João 5:21: “Porque, assim como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida a quem tem o prazer de dar-lhe”. O poder para ressuscitar os mortos está nas mãos do Pai, e ele manifesta esse poder gloriosamente quando ele levantou seu Filho da morte para a imortalidade (Atos 17:30, 31, Rm 6:9; 8:11). Mas enquanto Cristo estava na Terra, ele levantou vários da morte – o caso mais famoso é o de seu amigo Lázaro. Assim, mais uma vez, Cristo estava agindo no lugar de Deus, ressuscitando os mortos e mostrou-se no morphe de Deus.

Portanto, morphe não subentende acidentes externos ou crises de divindade, mas sim os atributos essenciais. Isso pode ser comparado com o trecho de II Cor. 4:4, onde Cristo figura como a «imagem» de Deus, o que é igualmente atestado em Col 1:15.

Cristo exibiu a «forma» de Deus no sentido de como sua vida se manifestou ao mundo. A frase não indica «ser igual a Deus», em qualquer sentido, mas antes, indica «existência em pé de igualdade com Deus», o que, presumivelmente, para muitos, significa uma forma idêntica de existência, embora não seja essa a visão de Paulo.

Jesus era filho de Deus, de modo que existia na própria expressão do Pai, mas como Deus não tem forma, Jesus existir na forma de Deus significa que ele revelava a deidade. Existir em forma de Deus não fazia dele a divindade assim como existir em forma de humano não fazia dele a humanidade, apenas especifica que ele existia na forma em que aquela natureza impõe. Se existir em forma de Deus, significasse que Jesus é a divindade, então existir em forma de humano, significaria que Jesus era a humanidade, mas sabemos que a humanidade é uma natureza partilhada.

Outro uso de morphe na Bíblia apoia a posição de que a palavra não se refere à literal essência/natureza divina. O Evangelho de Marcos faz uma breve referência à conhecida história em Lucas 24: 13-33 sobre Jesus aparecendo aos dois homens no caminho para Emaús. Marcos nos diz que Jesus apareceu “em uma forma (morphe) diferente” para esses dois homens, de modo que eles não o reconheceram (Marcos 16:12). Isso é muito claro. Jesus não teve uma “natureza essencial” diferente quando apareceu aos dois discípulos. Ele simplesmente tinha uma aparência externa diferente.

As bíblias de estudo podem até sugerir que a ideia de sentido da palavra “morphe” (forma) seja relativa “a natureza de”, mas isso apenas parece mais uma tática para “subliminar” o ensino de que Jesus seja Deus todo-poderoso. De fato, se ele era Deus, então ele certamente não foi feito em “todas as formas” como os seres humanos (Hebreus 2:14; 2:17), o que deve significar que ele era 100 % humano.

Ter o mesmo sentimento de Cristo

Interpretar a frase “estar na forma de Deus” tornou-se um romantismo teológico para a ala trinitariana. Significa para eles que Jesus era Deus, mas no seu nascimento ele se tornou um homem. O contexto dessa passagem deve ser cuidadosamente considerado. Por esse motivo estou insistindo em mais algumas linhas.

É significativo que esta seja quase a única passagem que pode ser apresentada para explicar o “elo perdido” no raciocínio trinitário – como Jesus se transferiu de ser Deus no Céu para ser um bebê no ventre de Maria. A análise a seguir procura demonstrar o que essa passagem realmente significa acompanhando o verso cinco, onde Paulo nos exorta a ter a mesma atitude de Cristo Jesus.

Paulo não apenas começa a falar sobre Jesus “do nada”. Ele se refere à mente de Jesus em Filipenses 2: 5. De volta a Filipenses 1: 27 Paulo começa a falar da importância do nosso estado de espírito. Isso é desenvolvido nos primeiros versos do capítulo 2: “que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa. Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus…”, Filipenses 2:2-5.

Paulo está, portanto, falando da importância de ter uma mente como a de Jesus, que é devotada ao humilde serviço dos outros. Os versículos que seguem comentam sobre a humildade da mente que Jesus demonstrou, ao invés de falar de qualquer mudança de natureza. Assim como Jesus era um servo, Paulo se apresentou com a mesma palavra (Filipenses 1:1, 2:7). A atitude de Jesus é estabelecida como nosso exemplo, e somos instados a nos unir a Paulo para compartilhá-la. Não nos pediram para mudar a natureza; somos convidados a ter a mente de Jesus – para “conhecê-lo, e à virtude da sua ressurreição, e à comunicação de suas aflições, sendo feito conforme a sua morte; Para ver se de alguma maneira posso [possamos] chegar à ressurreição dentre os mortos” (Fp 3:10, 11).

A nossa natureza não mudou, mas Paulo apenas pede que tenhamos o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, que “sendo em forma de Deus…” – que exigência os trinitarianos pensam que está sendo feita aos cristãos filipenses? O contexto é claríssimo, pois o que Paulo mostra nos versos 3, 5, 7 e 8, ajuda a esclarecer o verso 6. O conselho é para que se considere os outros superiores e melhores do que a si mesmo. Paulo então usa Jesus como referencial para dar um exemplo do que está querendo dizer: “Tenham o mesmo modo de pensar, mesma mente que Jesus teve“. Mas que mente seria esta exigida dos cristãos? Achar que não seria uma usurpação querer ser igual a Deus? Certamente que não, pois é exatamente o contrário disso que Paulo está solicitando. Paulo mostra que Jesus considerou os humanos e os interesses deles mais importantes que os seus, e não que ele ao contrário, tentou alcançar mais poder, ao tentar reivindicar igualdade com Deus.

Ter o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus não significa dar um salto de um local mistico transcendental espacial para um ambiente secular. Além disso, se o ponto do versículo é dizer que Jesus é Deus, então por que não dizê-lo? É claro que Deus tem a “natureza essencial” de Deus, então por que alguém colocaria Jesus nesse ponto? Este verso não diz: “Jesus, sendo Deus”, mas sim, “estar na forma/igualdade de Deus”. O significado real do texto pode ser norteado pela versão da Nova Bíblia Americana, edição católica inglesa, que verteu o versículo imediato da seguinte forma: “Ele não julgou que a igualdade com Deus fosse algo de que se devia apoderar”, ou seja, como ele preferiu não humilhar as pessoas por ser Filho do Rei, não agindo com altivez e poder abusivo, ele obedeceu e se humilhou como servo de todos até a morte no calvário.

Assim, fica claro que a questão tratava de Autoridade: Superior/inferior [sentimento], pois o contexto nos pede algo similar, “tendes o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus“, o que não foi uma mudança de natureza, do céu a terra, mas uma atitude (“sentimento”), e por isso foi exigido dos filipenses que “com sinceridade, considerem os outros superiores a vocês” (v 3).

Está resolvido o problema. E veja como: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus“.

Observe o que Paulo está falando aqui em todo este contexto; ele está dizendo que devemos ter a mesma “atitude” ou “mente” de Cristo. O que ele esclarece é que Cristo em sua mente, ou atitude não egoísta, não “se apegou” ser igual a Deus, mas se humilhou como servo por amor a nós. Ele não considerou agarrar-se à igualdade com Deus. Em outras palavras, Jesus não era obstinado e não se concentrava em sua nobreza como filho, mas se humilhava e servia aos outros. Ele não veio para ser servido, mas para servir. Assim, Paulo diz aos filipenses que façam a mesma coisa: ter a mente do “ungido” (Cristo) Jesus.

São os homens na terra – não Deus ou super-seres no céu que são ungidos. O homem Jesus foi ungido “por Deus” para o seu ministério e obra (Atos 10:38). É sobre aquele Jesus ungido que Paulo está escrevendo para os filipenses. O céu é o lugar errado para o esvaziamento. Paulo não usa uma única vez a palavra “céu” em Filipenses 2: 5-8. Ele não diz nada da ideia de um Jesus pré-humano fazendo um sacrifício “no céu” deixando seu suposto esplendor e vindo para a terra. Essa é uma história que nunca é descrita na própria Bíblia. É uma imagem que foi pintada por poetas, compositores e expositores pós-bíblicos. A obediência e sacrifício de Cristo que Paulo está apontando para os filipenses ocorreram na terra – não no céu. É o Jesus humano que tomou sobre ele a posição de um servo. E vai aqui um alerta para você caro amigo leitor: não acredite que a concepção e nascimento de Jesus foi o momento da vinda do super-ser do céu.

Paulo não diz nada sobre seguir o exemplo de um Jesus não humano que vem à Terra. Como isso seria um exemplo para os filipenses? Os filipenses não são “super-seres” que poderiam procurar “se transformar” de um tipo de ser em outro. O verdadeiro Jesus, nascido o filho de Deus, o filho de Davi, o herdeiro de todas as coisas, que se humilhou e obedeceu a Deus até a entrega de sua vida em uma cruz, tornou-se o exemplo mais incrível que nós, como seres humanos, teremos.

Enfim, Jesus recebe uma recompensa por sua obediência e sacrifício. Contudo, a figura que Paulo apresenta aos filipenses nos versículos 9-11 não é de um Jesus que é “restaurado” para sua “suposta” antiga glória no céu. Antes, Paulo nos mostra um homem que, por causa de sua obediência e morte em uma cruz, foi glorificado e agora está assentado à destra de Deus no céu. Deus “deu a ele” o nome que está acima de todo nome.

A visão trinitariana é inconcebível quando interpreta o texto de Filipenses como significando que Jesus se humilhou em uma encarnação, que Cristo não se tornou pobre para nós, mas manteve a riqueza de sua nobre natureza divina quando ele encarnou enquanto desfilava disfarçado de humilde no seu pobre corpo humano, e em sua humildade estava tendo que suportar sua natureza humana comum enquanto também vivia em sua natureza divina.

Não caros amigos trinitarianos, foi tudo real; Jesus “se humilhou tornando-se obediente até a morte, e morte na cruz”; Jesus se humilhou para fazer a vontade de Deus até o ponto de morrer (Marcos 10:45). E não morrer apenas uma morte, mas uma morte terrível no madeiro. Ele estava disposto a morrer porque entendia que, por sua morte, os pecados de muitos seriam perdoados (Mateus 26:28). Jesus sabia que, como filho humano unigênito de Deus, ele era exclusivamente amado por Deus (Mateus 17: 5). Ele sabia que ele era de grande valor aos olhos de seu pai. Tanto assim, que Deus aceitou sua morte como um sacrifício para o resto de nós (Efésios 5: 2). Por esta razão – Deus exaltou Jesus. E de fato, “Deus o exaltou soberanamente, e concedeu a Ele um nome que está acima de todo nome”. Jesus era o único filho gerado de Deus. Ele era o filho “amado” de Deus (Mateus 12:18). Ele foi exaltado por Deus e recebeu uma altíssima posição. Deus o fez para ser “Senhor” e “Cristo” (Atos 2:36). Deus também o exaltou por causa de seu trabalho e missão: seu cuidado e amor por seus semelhantes. A disposição de Jesus para morrer, a fim de redimir o resto de nós para Deus foi incrível (Apocalipse 5: 9). Por todas estas razões, Deus determinou que Jesus fosse o herdeiro de todas as coisas e que aqueles que são o seu povo serão co-herdeiros com ele (Romanos 8:17). Esta é a maravilha do favor de Deus sobre o homem Jesus Cristo. É um favor que flui sobre aqueles que são seu povo.

A humildade de Cristo não era de um filho preexistente saindo de sua posição no céu. A humildade do homem Jesus era que ele não considerava agarrar-se à igualdade de estima com Deus, mas sabendo que ele era apenas um homem, ele humildemente serviu e desistiu de tudo inteiramente. Isso é o quanto ele nos amou. Jesus ensina que a menos que estejamos dispostos a negar a nós mesmos e deixar tudo não podemos ser seus discípulos. Quão hipócrita ele seria se não desistisse de tudo como os trinitarianos afirmam.

A Deus toda Glória

 

Uma consideração sobre ““Existindo em forma de Deus” (Fp 2: 6,7)”

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